18 de mai. de 2010

Uma concepção leiga sobre o Movimento Estudantil de hoje

Nas últimas semanas vimos, ouvimos e ficamos indignados – ou não – com mais uma situação criada pelo Movimento Estudantil no Estado.

Cerca de três mil carteiras estudantis sumiram na sala do Diretório Central dos Estudantes da UFPB. Foi um golpe já previsto, porém, como a pratica já fora utilizada outrora, muito se duvidou que a usassem novamente.

O fato é que não é de hoje que golpistas, aproveitadores e futuros candidatos a cargos eletivos se revezam nas diretorias de entidades que se dizem representantes do povo, não só de estudantes.

Mas, fixando apenas no Movimento Estudantil (ME), podemos analisar alguns fatores que possivelmente contribuem para que pessoas de índole questionável apareçam e usurpem dinheiro alheio para fins pessoais.


Geralmente se atribui a Partidos Políticos de esquerda uma situação mais confiável em termos de lutar por direitos coletivos, qualidades das discussões por escolas e universidades melhores, benfeitorias para estudantes, etc. O problema é que estes partidos geralmente seguem tendências, ou escolas de pensamento, diferenciadas, embora o fim seja o mesmo. São Marxistas, Leninistas, Trotskystas, seguidores de Stalin, Rosa Luxemburgo e assim por diante. Cada um teórico socialista defendia uma tese, alguma prática que o diferenciava do outro e assim seus respectivos seguidores tendem a reproduzir o mesmo discurso, o que dificulta um entendimento durante processos de organização para, por exemplo, um pleito eleitoral de Diretório Central ou Centro Acadêmico.


Alheio a isso, a estudantada tende a eleger seus representantes pela amizade, por repudiar tendências comunistas identificadas nos partidos de esquerda, dada a carga cultural patrocinada pelo capitalismo, ou simplesmente pelo que os futuros representantes têm a oferecer, levando em consideração o imediatismo, uma vez que, bombardeado pela cultura do individualismo, pensam que só têm quatro anos para aproveitar o que um CA ou um DCE pode lhes oferecer.


Outro fator que não se pode descartar é algo que se costuma chamar de refluxo do movimento, ou dos movimentos. Geralmente, após grande quantidade de desmandos de um governo, ou um representante (ME), cessando inclusive conquistas/direitos dessa determinada parcela de indivíduos, os representados (sociedade) tendem a se organizar em grupos, formando Movimentos Sociais. Esses movimentos populares se concentraram em um determinado campo de atuação, como o Movimento dos Sem-Terra, por exemplo. Vários movimentos juntos, não necessariamente, mas comumente, formam um partido político, ganham força e saem em defesa de uma coletividade ainda maior. Quando conseguem, enfim, eleger um representante comprometido com suas causas, passam a acreditar que este eleito irá, de alguma forma, resolver seus problemas, e recuam, baixam a guarda e ficam na espera. Foi mais ou menos o que aconteceu em 2003 quando Lula foi eleito presidente, e em 2005, particularmente aqui, em João Pessoa, com o ex-prefeito Ricardo Coutinho.

A eleição do ex-prefeito, diferente da eleição de Lula, afetou mais diretamente o ME por que estava mais próximo, conhecia e lutava junto com estudantes da capital. Ainda em 2003 os movimentos sociais, em nível nacional, viram que não poderiam continuar de braços cruzados e foram a luta. Em João Pessoa, mesmo com a guinada do prefeito em favor dos empresários do setor de transporte publico, de ações que contrariaram setores da cultura de João Pessoa, da saúde, de funcionários públicos municipais, os movimentos sociais continuaram esperando e, como conseqüência, houve desmobilização quase que total das bases.


Para concluir este raciocínio, vale também lembrar que os próprios partidos de esquerda como o PSTU, PCO, PCR, PCdoB, que investem nas juventudes mas não conseguem aglutinar, não se entendem, e alguns até se utilizam de práticas de partidos de direita. Por outro lado, o maior partido de esquerda do Brasil, o PT, que tem base popular ainda muito sólida, não se preocupa em manter essa base e nem muito menos tem a cultura de investir na juventude. Basta observar os guias eleitorais dos últimos anos.


Como em política não existe espaço vazio, esse conjunto de fatores contribui para que surja a todo instante indivíduos, geralmente carismáticos, com palavreado fácil e cativante, que se tornaram os futuros golpistas da nação.

Um comentário:

Unknown disse...

Infelizmente, nesta fase de refluxo, o movimento estudantil universitário é a classe média de um lado, brincando de "maio de 68" ou a despolitizados e festeiros de direita, também de classe média, de outro, que procuram fazer da militância a continuação da calourada.