25 de jul. de 2013

Voz dos empresários de onibus de João Pessoa pega Taxi


Certa vez, lideranças do Movimento Estudantil, lá por volta de 2005, receberam cartas de ‘intimidação’ dos órgãos de justiça, “orientando” que, resguardados pela Constituição Federal, no direito de reunir e reivindicar em espaço público, os manifestantes realizassem os seus atos de protesto de forma que também o direito constitucional de ‘ir e vir’ das demais pessoas fosse respeitado.

Uma forma clara de identificar que essa recomendação tinha orientação política (político-governista, nesse caso), estava impressa no uso do aparelho repressor do Estado contra os manifestantes.

Discussões sobre o dever do Estado e o direito dos cidadãos a parte, hoje um fato interessante ocorreu em João Pessoa – PB. Uma imensidão de táxis interceptou a Rua Guedes Pereira, onde se localiza o Paço Municipal (e o Batalhão e o Comando Geral da PM), e exigiam a presença do Prefeito Luciano Cartaxo para uma reunião.  Essa mobilização não fechou somente aquela rua. A partir da Av. Miguel Couto, saída da Lagoa em direção à Cidade Baixa e terminal de integração, estava fechada para ônibus. Todo o Centro da cidade estava congestionado.

Recorrendo ao que recomendava o judiciário aos estudantes, igualmente essa mobilização dos taxistas infringia o direito de ir e vir das pessoas. Daí pensamos: então o órgão repressor do Estado, a Polícia Militar, está toda empenhada para liberar o transito. Certo? Bem! Vamos por partes.

Toda forma de protesto é válida. Exigir melhores condições de trabalho, uma estruturalização da política de praças de taxi, abrigo para taxistas nos seus respectivos pontos, etc., tudo isso é plausível e nós, sociedade civil organizada, e os inclusos em algum grupo político ou movimento social, devemos apoiar e incorporar. Melhorar a qualidade dos serviços de táxi melhora, de alguma forma, nossa qualidade de vida também.  Mas, a principal bandeira dessa categoria não beneficiava a ela (e nem a nós). Eles pediam uma maior fiscalização e combate ao transporte alternativo ‘clandestino’.

Então, de onde eu tirei que isso não beneficia a eles (taxistas)?

Observe que essa luta, mesmo que não esteja em pauta atualmente, é uma luta da AETC-JP, órgão criado para beneficiar as empresas de ônibus. Os “clandestinos” têm preço de passagem diferenciada da praticada pelos taxistas, logo, não competem entre si. Este tipo de transporte é uma alternativa à fragilidade da oferta de ônibus. Ai sim, é onde há concorrência. Talvez minha visão esteja equivocada, mas os alternativos não vão buscar os clientes em shoppings, aeroportos, supermercados e nem, tão pouco, vão deixar em casa. Eles seguem a lógica do itinerário dos ônibus. Pegam passageiros nas paradas de ônibus. Têm passagem ao valor da passagem de ônibus. E isso os taxistas não levam em consideração.

Coincidentemente, os taxistas têm (ou tinham, na minha época) assento no conselho tarifário da cidade e sempre vota(ra)m a favor do aumento. Inconscientemente, ou não, votar a favor do aumento das passagens de ônibus não leva o cidadão a preferir o taxi, como eles podem argumentar. E mais inconscientemente ainda, acabar com o transporte clandestino não beneficia os taxistas, porque o cidadão que paga R$ 2,20 por uma passagem não terá condições de pegar um taxi ao retornar para casa no fim do expediente (ou ir ao trabalho no inicio).

E, finalizando, também coincidentemente, na manifestação de hoje, até onde minha visão alcançou, não se via um PM negociando (ou imprimindo força) a desobstrução do transito.

2 comentários:

Flávio disse...

Ótima análise, George. Quando vi a manifestação pensei exatamente o mesmo sobre a PM não estar empenhada em 'garantir o direito de ir e vir'. Mas não tinha atentado pra o fato de que a principal bandeira da manifestação (combate aos alternativos) não beneficia os taxistas. Você tem toda a razão.

Cidadão Silva disse...

Talvez seja uma analise equivocada da minha parte. Talvez os taxistas reivindiquem essa questão e beneficiem os empresários de TP inconscientemente. Mas são espaços políticos. E eu acho pouco provável que esse espaço politico de margem pra inocência.