Já faz alguns anos que penso que
a babaquice do ser (ir)racional brasileiro não pode ser classificado
cientificamente, quando o assunto em questão é política. E alie a isso o fato
de política estar em tudo o que fazemos, vemos, ouvimos, respiramos. Afinal, a
depender de uma disputa política, ou de uma vontade política, até o que você bebe
não é o que você realmente bebe (veja o caso das cervejas, que hoje são
produzidas no Brasil à base de milho).
Da mesma forma que não sabemos o
que bebemos, também não podemos saber o que pensamos. Será que nossos conceitos
são realmente nossos? E quando se trata de corrupção? De PT? De seletividade da
mídia? De Juiz Moro?
Ontem, estava bem sentado num ônibus,
me deslocando ao centro da cidade, quando um senhor, com vestes da antiga SUCAM
(antiga por que não sei se ainda existe ou se era realmente da SUCAM o uniforme
que ele usava) adentra o coletivo e senta-se ao meu lado. Com fala mansa e
demonstrando insatisfação com o calor, ele tenta puxar assunto. Liberei-lhe um
falso sorriso e ele entendeu. Minutos depois, ele retoma sua iniciativa de
conversar. Era um senhor simples, de vocabulário pobre, mas rico em vontade de
expressar sua opinião. E perguntou-me: “Você assistiu o jornal da GLOBO ontem?
Viu o que aconteceu com aquela vagabunda? Sabe dizer se o STF vai deixar
derrubar aquela nojenta? ”. Respondi-lhe, com uma única palavra que não. E ele
continuou: “Mas nem o FANTASTICO você assistiu? ”, e já me julgava um completo
desinteressado pelos rumos da nação pelo simples fato de eu não ter assistido o
Jornal e o programa da GLOBO das noites anteriores. E desceu junto comigo, na
Lagoa, relatando sua vontade e me questionando sobre o que pensava sobre a
derrubada do governo: “Não vejo a hora dessa cachorra sair do governo. Você
acha que ela cai? ”
Ultimamente tenho me reservado no
direito de não responder a indagações sobre o Governo Federal. Até porque, nos
rumos atuais, ninguém tem estômago para fazer defesa dele. A Política Econômica
desses últimos meses tem afastado militantes, simpatizantes e até gente que faz
parte, organicamente, do governo. Mas confesso que não resisti. Era muita
pressão para eu me calar. E lhe me despedi do senhorzinho com duas perguntas
que lhe fizeram procurar outra pessoa pra conversar: “Meu senhor. Não sei se o
senhor tem idade suficiente, mas, se tem, deve ser do tempo em que um salário
mínimo não passava dos R$ 120,00 e, após 8 anos de governo, chegou aos R$ 200
com muita dificuldade e luta. 1. O senhor lembra disso? 2. O senhor sabe quanto custava uma cesta básica naquele período? (R$ 82,50)
Ainda durante aquele governo, e
em anos anteriores, multidões se humilhavam em filas nas portas da casa de
cabos eleitorais de bairros, afim de receberem tickets que valiam 2l de leite. O
subsídio do GLP foi tirado, fazendo o gás de cozinha mais que triplicar. O mesmo
aconteceu com o combustível. As tarifas de telefonia subiram exorbitantemente
ao ponto em que as Ações das operadoras despencaram.
Provavelmente ele não deve ter
lembrança disso. Afinal, assiste à GLOBO todas as noites (exceto àquela sobre a
qual me questionou). E talvez seu repertório de conhecimento nato só não seja
maior por não ter interesse na leitura, fruto de uma política de Estado de
décadas, e assim, não tenha visto VEJA.
Mas, o pior é o tratamento dispensado
à uma Chefe de Estado. As palavras utilizadas por esse senhor não são nada
perto das charges, caricaturas, vídeos e áudios que me chegam todos os dias via
redes sociais. É tão hilária a posição política do brasileiro que, volta e meia
ele quebra a cara. Ou ninguém percebeu que escolheram os piores e mais
corruptos políticos da história recente para liderar o movimento anticorrupção?
E o caso da estocagem de vento, que rende diuturnamente piadas vazias, tão
vazias quanto às mentes de quem as produzem, e sobre um tema que sequer têm
conhecimento? Não perceberam que estocar vento é tão possível que eles próprios
já praticam isso dentro de suas cabeças?
De fato. A babaquice do
brasileiro não é coisa para se perder tempo e dinheiro em pesquisas
científicas. No máximo, é assunto para um texto rápido, como esse.
Para conhecimento
COMPARAÇÃO: CESTA BÁSICA/SALÁRIO MÍNIMO | |||||
abr/02 | ago/15 | ||||
SAL. MÍNIMO (R$) | C. BÁSICA (R$) | % | SAL. MÍNIMO (R$) | C. BÁSICA (R$) | % |
200 | 82,5 | 41,25 | 724,96 | 244,45 | 33,72 |
Fonte: http://www.ufsj.edu.br/dceco/cesta_basica.php
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