5 de mai. de 2016

Que país é esse?

Foto: http://cabaredevirgem.com.br/imagens/2015/10/Renato-Russo.jpg
Não precisa ser um expert em música, e nem em sociedade, pra concordar com o que eu sempre digo: as músicas de antigamente são melhores, e não é em termos, como diria Renato Russo. Elas falam muito, tanto na composição melódica, como na criação de letras que ultrapassam gerações.

Vejamos a situação atual do nosso imenso Brasil. Digo a situação política. Relembremos, então, uma das músicas da Legião Urbana mais tocada por bandas de renome, e por bandinhas de aprendizes de guitarrista. O nome da música: Que país é esse? E note que, já no seu título, ela termina com uma interrogação.

Não é por acaso. Renato não estava afirmando, nem se alarmando com a situação do país décadas atrás. Mas ele repassou pra quem ouve a música, a obrigação de se questionar.

A música fala de tudo, da exploração dos brasileiros desde a colonização ou por parte dos patrões (conflito de classes?), mas, já nas primeiras linhas, ela trata daquilo que o Brasil mais combate atualmente: a corrupção.

                Nas favelas
                No senado
                Sujeira pra todo lado

É evidente que a sujeira de que tratou RR está revestida no velho jeitinho brasileiro de se dar bem, em qualquer situação, e, de preferência, passando por cima do outro, do da vez, do de a quem pertence por direito ou, de a quem é o direito. Nas filas de supermercado, nas vagas de estacionamento destinadas a pessoas portadores de necessidades especiais, na fila do posto de saúde, do banco, durante um flagrante de infração de transito, etc., etc., etc.

Mas, nos atenhamos a questão política mais puramente. Digo político-eleitoral. Alguém se atreveria a creditar, no cenário atual, a frase “Ninguém respeita a constituição”?

Dos últimos acontecimentos, de todo o processo por que passa a presidentA do Brasil, pelos vários entendimentos jurídicos, tanto a favor quanto contra, e a forma como foi e está sendo conduzido todo este processo, a banalização das leis, os atropelos de certos juízes (da Operação Lava-jato, por exemplo) para fazer valer a vontade de determinados grupos em detrimento do que deveriam salvaguardar (lembre-se do caso dos vazamentos, propositais, das interceptações telefônicas de Lula e Dilma, mesmo depois de a ordem judicial ter sido dada no sentido de cessar a operação de gravação das ligações), da demora dos Ministros do Supremo Tribunal Federal para julgar denúncias consideradas graves e urgentes pela Procuradoria-Geral da União, pela Condução Coercitiva e amplamente estampada pela mídia, com cumplicidade da própria Polícia Federal e da Justiça, de Lula para prestar depoimento (lembre-se também que esta semana, outro ex-presidente – FHC, foi convocado para prestar depoimento à PF, e, a este, foi conferida a prerrogativa de ex-presidente para a discrição do fato), UFA, CANSEI...

Obviamente que, como que num jogo de futebol, os torcedores do time de lá, não se importam se a forma de macular a imagem de Lula, ou a forma de retirar Dilma do Governo são legais ou legítimas. Importa apenas que sejam feitas. No mundo do futebol seria mais ou menos como vibrarem por um penalte marcado de forma irregular, ou um gol de mão ou impedido. Se foi pro seu time, é o que vale. E ai é que o trecho da música fica ainda mais emblemático numa sociedade que, de tão infame chega a ser escrota. Realmente, ninguém respeita a constituição – “Mas todos acreditam no futuro da Nação”.

Que país é esse?

E quando a banda toca o refrão, lá de baixo, o público, com a velha síndrome do vira-lata, grita: “é a porra do Brasil”.

Um Legionário (aquele que seguia a banda Legião Urbana) de verdade sabe que, se vivo fosse, Renato Russo, ao ouvir o público adulterar sua música de forma tão ridícula, pararia a música e soltaria os cachorros (com pedigree) pra cima deles.

E é até fácil de imaginar o que ele diria:

          - "Calma, gente. Se vocês continuarem acreditando que o país em que vivemos é isso mesmo, e se isso for verdade, então, o que estamos fazendo aqui?"

E continuaria:

          - "Respeitem a pátria em que vivem. Sintam orgulho dela. E façam o possível para que ela seja cada vez melhor. Pra vocês e pras gerações futuras."

Obvio que Renato poderia alterar uma ou outra parte desse meu raciocínio. Mas, se você viveu verdadeiramente a Legião Urbana, sabe que ele daria uma lição nos seus fãs.

Porém, como os tempos mudam, eu não duvidaria que Renato Russo também mudasse de opinião e de atitude. Afinal, se ninguém respeita a constituição, então, esse país pode ser, realmente, a porra do Brasil.




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