24 de dez. de 2025

Quando o presépio vira infração: a criminalização da pobreza e da solidariedade

Todos os anos, o Brasil se diz majoritariamente cristão. Discursos oficiais evocam Deus, valores familiares e a figura de Jesus como referência moral. No entanto, basta observar o tratamento dispensado às pessoas em situação de rua para perceber uma contradição profunda entre a fé proclamada e a prática institucionalizada. Em diversas cidades brasileiras, legislações e ações governamentais buscam impedir ou dificultar a doação de alimentos, roupas e outros itens básicos a quem vive nas ruas, sob o pretexto de “ordenamento urbano”, “segurança” ou “política pública adequada”.

É nesse contexto que surge uma pergunta incômoda: se o nascimento de Jesus acontecesse hoje, em estados como São Paulo, Santa Catarina ou Paraná, o que ocorreria? O presépio seria acolhido ou removido? Os Reis Magos seriam celebrados ou advertidos?

Jesus nasceu fora de qualquer padrão de dignidade material. Dormiu ao relento, em um abrigo improvisado, acolhido por pessoas simples e sustentado por doações. Se essa mesma cena ocorresse hoje, é plausível imaginar a chegada de agentes públicos alegando ocupação irregular do espaço, risco sanitário ou perturbação da ordem. As oferendas — ouro, incenso e mirra — poderiam ser tratadas como doações irregulares, e os doadores, constrangidos por “incentivar a permanência na rua”.

O que essa hipótese revela não é um exagero retórico, mas uma realidade concreta: a pobreza é aceita como símbolo religioso, mas rejeitada como fato social contemporâneo. Celebra-se o Jesus pobre do passado, enquanto se combate o pobre real do presente. Há presépios nas praças, mas não há tolerância com quem vive nelas.

Ao impedir a solidariedade direta, o Estado não resolve a exclusão — apenas a torna menos visível. Retira-se o cobertor, o prato de comida e a presença incômoda, mas não se oferece, na mesma proporção, moradia, trabalho, saúde e dignidade. A pobreza não desaparece; apenas é deslocada, silenciada e, muitas vezes, criminalizada.

Mais grave ainda é a criminalização indireta da empatia. Quando cidadãos são desencorajados a ajudar porque “não é a forma correta”, cria-se um paradoxo cruel: o auxílio institucional é insuficiente, mas o auxílio humano é proibido. Nesse cenário, ajudar passa a ser visto como desobediência, e não como virtude.

A reflexão é inevitável: se os valores cristãos são frequentemente invocados na política e no discurso público, por que o princípio mais básico deles — o cuidado com o próximo — é tratado como problema urbano? A resposta talvez esteja no fato de que a miséria, quando visível, denuncia falhas estruturais que muitos preferem não enfrentar.

O presépio moderno, ao que tudo indica, seria desmontado. Não por falta de fé, mas por excesso de incoerência. E enquanto isso ocorrer, a pergunta continuará ecoando: que tipo de sociedade celebra um Cristo pobre, mas rejeita o pobre que vive como Ele viveu?

Este artigo contou com o auxílio do ChatGPT (OpenAI), uma ferramenta de inteligência artificial, na estruturação e redação do texto, sendo o conteúdo final de responsabilidade do autor.

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